O rapper Sabotage, nascido Mauro Matheus dos Santos, de 29 anos, se orgulhava de ter abandonado a bandidagem, carreira seguida por vários de seus colegas de infância na Favela do Canão, no Buraco Quena, na Zona Sul de São Paulo."Já vi o lado esquerdo da vida e saí. Hoje vivo de show, ajudo os irmãos e ainda vou tirar muito ladrão do crime", disse numa entrevista, no ano passado. Esse projeto foi interrompido na manhã de sexta-feira. Depois de deixar sua mulher no trabalho, Sabotage foi abordado por um homem não-identificado que o executou com quatro tiros à queima-roupa. Morreu no hospital São Paulo, deixando três filhos. A polícia não tem pistas do crime, mais desconfia de vingança, porque nada foi roubado e a poucos metros do local havia uma máscara balaclava, daquelas que cobrem todo o rosto. A vida de Sabotage daria um documentário sobre a dificuldade dos moradores da perifería em fugir do mundo do crime. Filho de um catador de papel, ele tinha um tio condenado a 28 anos de prisão por vários crimes e chegou a passar uma temporada de quatro meses na Febem, quando era "soldado" do tráfico, na adolescêcia. Em 1995, foi novamente indiciado por porte e tráfico. Saiu do crime por conselho do chefão da favela, que avaliou: "Tu sabe cantar, larga essa vida, que não é coisa pra você". Sobreviveu, mas viu dois de seus irmãos morrerem, assim como o traficante que o havia aconselhado. No ano passado, em depoimento a ÉPOCA, chegou a perder a conta dos amigos que morreram. Sabotage tornou-se famoso fora do gueto depois de participar do filme O Invasor, de Betro Brant. Além de compor a trilha sonora e de fazer um papel secundário, ele atuou como consultor, reescrevendo diálogos na linguagem da perifería. Depois disso, trabalhou no filme Estação Carandiru.
Como Sabotage, vários rappers americanos foram mortos nos últimos anos, vítimas da mesma simbiosa entre criminalidade e música de perifería. A lista inclui Tupac Shakur, tido por muitos como o melhor de todos os tempos, Eazy-E, DJ do Run DMC, um dos pioneiros do gênero, e ainda Notorius B.I.G. No Brasil, essa linha perigosa já havia resultado na condenação do pagodeiro Belo, ex-vocalista do grupo Soweto, flagrado numa gravação telefônica com o traficante Vado, do Morro do Jacarezinho, no Rio de Janeiro.
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