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Naquele quarto friento

Por: Marcos Lopes

Naquele quarto friento.

 

- alô, e ai, meu anjo, será que dá para sairmos hoje?

- Sabe o que é – disse ela pensando numa resposta criativa para persuadi-lo – marquei de sair com umas amigas e acho que hoje não vai dar.

Ele convencido de que sua namorada realmente sairia com as amigas, passou o sabadão à noite pescando mosca em seu quarto friento. Alguns amigos o chamaram para pegar uma balada, ele recusara, alegando que estava sem pique, que trabalhara o dia inteiro e estava mortinho.

Os amigos... Os amigos fingiram acreditar na resposta do amigo. Enquanto os que chamaram-no para sair sacudiam os esqueletos, ele pescava mosca em seu quarto friento. A fotografia de sua garota estampada na porta do guarda-roupa deixava-o ansioso. Ele passou à noite em claro imaginado o que ela estava fazendo, por um momento sentiu-se traído, mas logo veio à sensação do bem-estar, levantou-se, tomou um banho gelado para dissimular a cara de cansado e saiu para distrair-se um pouco.

Passado algum tempo, chegou em casa eufórico perguntado se alguém havia ligado, ficou insatisfeito com a resposta, preferiu não ter perguntado nada, em seguida o telefone tocou, até parecia pirraça, seu órgão muscular central da circulação do sangue cavalgou em seu peito, por um instante imaginou centenas de coisas para dizer, mas, a voz masculina do outro lado da linha dilacerou todas palavras que ficara engastada na véspera, a desilusão e o medo de ter possivelmente fracassado mais uma vez no amor, fez com que ele ficasse mais uma vez pescando mosca em seu quarto friento.

- Alô, e hoje, será que dá para nos vermos?

- Ligue-me mais tarde e conversaremos melhor!

 Ainda havia uma minúscula chama de esperança acesa naquele carente, puro autêntico coração, ele seria capaz de gastar seu último centavo para fazê-la feliz, daria o que nunca tivera para vê-la sorrir, e tudo que tinha em troca era a ingratidão daquela garota desalmada, trabalhava pensado em seu sorriso, sua diversão dependia da dela, vivia em sua função.

- Alô – era ele ligando novamente para saber se daria para se verem naquele dia – ela não está? Obrigado, avise-a que eu liguei.

Tudo em sua volta parecia ser tão insignificante, seu trabalho, sua família e até mesmo sua vida, nada mais fazia sentido a não ser ficar pescando mosca em seu quarto friento.

Duas semanas se passaram, a viagem lhe fez pensar um pouco menos na garota, durante o período em que ficou fora ele saiu, dançou, bebeu e até mesmo envolveu-se com outras meninas sem que as lembranças da sua interferissem, desde quando conheceu a sua namorada, aquela foi única vez em que não ficou pescando mosca em seu quarto friento, a partir daquele dia descobriu o outro lado da vida, descobriu que muitas vezes devem-se deixar as coisas fluírem, acontecerem naturalmente.

A fotografia de sua “ex” ou ainda seria sua atual namorada? Enfim, a fotografia de sua garota estampada na porta do guarda-roupa, desta vez não o machucou como da última vez. Debruçado em sua cama, seus dedos corriam livremente nas teclas do telefone, tinha ânsia em falar-lhe, necessitava ouvir aquela voz doce, macia. A paixão enfurecia tua alma deixando-a tristonha, o telefone não tocou o dia inteiro, e voltou mais uma vez a pescar mosca em seu quarto friento.

Toca telefone, toca, por favor, toca. Este era o seu principal desejo.

-         Alô sabe o que eu estava pensando? De nós irmos assistir aquele filme que irá estrear hoje nos cinemas e...

-         Seria legal – respondeu ela reacendendo aquela chama que quase apagara de seu coração – mas é que estou estudando, aliais, o vestibular está chegando.

Mais uma vez o coração daquele jovem espatifou-se em minúsculos estilhaços, quantas e quantas vezes não se flagrou prometendo para si mesmo que não mais ligaria, apagou o número do telefone dela de sua agenda. Foi difícil, mas conseguiu não mais ligar para ela, o telefone passou a ser seu pior inimigo, olhava para o aparelho com desprezo, mas sempre que o mesmo tocava, ele torcia para que fosse ela, a desilusão ainda continuava, devorava-o lentamente, ela nunca mais ligou, nem mesmo para saber como estava aquela "alma-penada", se estava bem ou mal, nem mesmo um... Alô.

O homem pode se esconder de tudo e de todos, mas, nunca de seus problemas e de seu destino, com ele não foi diferente, até hoje não sabemos se o "senhor destino" realmente queria lhe pregar uma peça, ou se apenas queria ser sarcástico com ele. Foi justo na feira de domingo que a encontrou, admirou-se em revê-la, como estava diferente.

Conversou o suficiente para entender que em seu ventre gerava uma criança, sim, uma criança. Ele a entendeu, apesar de não se conformar com a traição da ex-namorada, quando soube que o pai da criança foi embora sem dar a ela ao menos uma explicação. Propôs que ela o procurasse caso faltasse alguma coisa para a criança, aliais, ele a amava.

Ele cumpriu com a palavra, sempre esteve ali para o que desse e viesse, enfrentou sua família, seus amigos, as pessoas tirando sarro, mas, conseguiu conquistar seu objetivo; reconquistou, se é que alguma vez ele havia conquistado,  o áspero coração da garota que tanto amava, registrou a criança e nunca mais ficou pescando mosca em seu quarto friento. Ele agora estava feliz, será que existe felicidade maior que morar com uma mulher infiel e ainda assumir o fruto da traição?

Bom, como toda historia termina com final feliz... Está foi diferente, uma certa noite quando chegava cansado do trabalho, encontrou no caminho o co-responsável da traição de sua namorada, cabisbaixo, desceu a rua carregando sua marmita embaixo do braço, o sujeito o seguiu e numa esquina sombria o agrediu com um bastão até sua morte, fora morto pelas mãos do pai de seu filho.

À noite de sabadão ela não saíra e ficou pescando mosca em seu quarto friento.

 

 

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