Está na moda, nos últimos dias, falar-se em “pacto para uma campanha limpa”, querendo isto dizer, que mesmo a lei permitindo expressamente, os partidos políticos e candidatos não colocariam faixas, placas, cartazes, banners, ou materiais semelhantes, expondo-se aos eleitores, nas ruas, avenidas, e mesmo nas pinturas dos muros particulares, devidamente autorizados pelos proprietários.
Fala-se na “poluição visual” que isso pode causar, principalmente nas grandes cidades. Entretanto, ousamos discordar de tal “pacto” e da posição daqueles que o defendem, por uma razão muito simples: estamos em período de propaganda eleitoral, de campanha com todos os meios lícitos possíveis, de modo a permitir aos eleitores, pelo menos saber os nomes dos candidatos, os cargos que postulam, sua fotografia, seu número.
Não socorre os defensores desta idéia a existência do horário eleitoral gratuito, por que além dele só começar na metade de agosto, justamente a camada da população que deveria ser atingida, encontra outra forma de distração naquele horário. E, além disso, os “donos” de partido limitam as aparições a uns poucos privilegiados.
A quase totalidade daqueles que defendem o tal “pacto” é constituída por pessoas com excelente nível intelectual e cultural, com quase toda certeza, já sabendo, sem precisar ver os cartazes, as placas e os muros, em quem votar. Mais e o cidadão comum? E aquele que não teve as mesmas condições de vida? E aquele que não assiste às entrevistas do Roda Viva (da TV Cultura, até agora excelentes por sinal) a fim de formar a sua própria convicção? E aquele que não lê o jornal, nem no fim de semana? Enfim, para a grande maioria da população, a exposição da figura, do número, do nome, é suficiente para dar notícia da existência do candidato. Esta grande maioria, isto é fato, infelizmente, não está preocupada com programa de governo, com o passado bom ou ruim dos candidatos. Deveria sim, mas não está.
Esta preocupação maior, que deveria ser regra, não exceção, é a que temos e é a que tem justamente aqueles que defendem o tal “pacto”, já que não dependemos, para nossa convicção, de ver faixas, cartazes e muros pintados e espalhados pelas cidades.
Mas nós não somos a imensa maioria, e para aquela, qualquer “pacto” neste sentido tira a possibilidade da ampla escolha, talvez até fraudando a própria democracia que tanto defendemos.
Preferimos pensar que um pouco mais de sujeira e poluição (além daquela já tão presente no nosso cotidiano) é um preço pequeno a ser pago em função da aproximação de toda a população (e não somente de alguns) aos candidatos.
Por outro lado, já assistimos uns e outros aderindo ao tal “pacto”, alegando adiantadamente que a partir de agora, as milhares de faixas e cartazes que porventura tragam a sua imagem, teriam sido colocadas sem autorização, por algum apaixonado correligionário, menos avisado. Ou seja, o candidato diz ser a favor de não se poluir a cidade com propaganda eleitoral, mas estimula, ainda que veladamente, a ampla colocação, sob a desculpa de que não foi ele quem pediu ou autorizou.
Mais ainda, já ouvimos também a famosa desculpa de que eu sou a favor, mas como meu oponente faz, não há outra possibilidade, a não ser fazer também.
Para você leitor – que também faz parte de uma minoria – fica a reflexão, é correta a defesa de uma CAMPANHA SECRETA e sem a opinião livre da imprensa?
As limitações em época eleitoral atingem também a imprensa escrita, mas, principalmente o rádio e a televisão, que sofrem restrições configuradoras de verdadeira censura. Também aqui vige o princípio latino de tutela à vontade do povo. O povo não pode ser influenciado. Nem por poluição visual, nem por opinião da mídia.
“O povo não sabe votar”, já disse aquele famoso jogador de futebol do passado. Aqui também fica a nossa discordância. Que o povo possa sofrer influência da mídia e tome sua decisão. Que seja importunado pela poluição visual e possa decidir em favor da campanha limpa.
O que não se pode é querer tutelar a vontade do povo.
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