A Laje
Por: Alexandre M. O. Valentim
Uma pesquisa recente divulgada o mês passa pelo IBGE, revelou que na cidade de São Paulo 30 % das coberturas dos imóveis da cidade são de laje, o restante são construções prediais ou edificações com coberturas de telhado. Pois bem, e daí ?
O interessante é nós tirar-mos conclusões desses dados que por si só não tem valor nenhum, e algumas delas nós faremos aqui. Primeiro, a maioria das coberturas que tem só laje para cobri-las, estão localizadas nas periferias. É típico dessas regiões esse tipo de construção que não tem telhados encimando as residências e os pequenos comércios. Isso reflete a realidade econômica dessas sociedades, onde o poder aquisitivo dessa população é menor do que dos moradores de outras regiões mais ricas da cidade. A laje é uma forma de acabamento mais barato e, que a qualquer momento está preparada para receber o telhado quando o orçamento deixar. A laje cobre o imóvel das intempéries do tempo e isso em um primeiro momento já é suficiente para se poder habitar esses imóveis.
Pois como se vê, a laje é algo provisório que remedia uma situação de precariedade econômica. Em segundo lugar, as lajes das residências são nas regiões periféricas um lugar de sociabilidade pois, a sua construção já se inicia em mutirão, quase sempre em uma manhã ensolarada de domingo, onde se reúne os amigos, parentes e vizinhos tendo a missão de "bater a laje", ajudando o novo inquilino em sua nova moradia, que de outro modo o proprietário não teria condições de contratar pedreiros para essa tarefa. O fim do enchimento da laje é sempre comemorada com churrasco, cerveja e pagode dado pelo anfitrião para retribuir a solidariedade de todos aqueles que ajudaram com sua mão-de-obra gratuita. Por sua vez, o dono do imóvel fica solidário a qualquer momento, em ajudar também àqueles que lhe ajudaram na mesma empreitada.
São nas lajes que os meninos empinam suas pipas, as mães pinduram as roupas para secarem, as meninas se espreguiçam ao sol para pegarem uma cor, onde são preparados os churrascos de fim-de-semana, onde as caixas de som ecoam em alto volume as músicas de rap, sertanejo e pagode e, onde do alto se descortina a rua lá em baixo, com visão de toda a vizinhança.
As lajes são antes de tudo uma instituição cultural das periferias que não servem só para cobrirem os cômodos das casas mas tem funções várias.
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