"HABEMUS PAPAM"! Quando o cardeal chileno subiu ao palanque e disse essas duas palavras à multidão que as esperara horas a fio, o mundo Católico regozijou-se com a eleição, em tempo recorde, de um novo Papa.
Aqui, no país com a maior quantidade de Católicos no mundo, foi por terra a esperança de se ter, pela primeira vez, um Sumo Pontífice nascido em terras brasileiras.
A maior parte dessa esperança que reinava entre os Católicos brasileiros foi alimentada pela Mídia. Principalmente pela líder em audiência, Rede Globo. Após a morte de João Paulo II, a Globo passou a falar insistentemente no conclave que se seguiria. Tudo normal. Mesmo porque tratava-se de assunto de interesse mundial. Mas o espaço reservado à reportagens sobre os candidatos brasileiros a Papa foi enorme. Com ênfase ao Arcebispo de São Paulo, Dom Cláudio Hummes. Chegou-se a mostrar a cidade onde ele nasceu, sua infãncia etc. Sem falar na cobertura absurda do seu embarque à Roma no Aeroporto de Guarulhos.
Pela cidade, ouvia-se entre os paulistanos, da vontade que havia para que essa utopia se concretizasse. Nas rodas de bate-papos só se falava nessa hipótese. "O Brasil precisa de um Papa", "Chegou a nossa vez", diziam os mais afoitos.
Fazendo uma rápida análise do acontecimento em questão, chega-se à conclusão de como o povo aceita de braços abertos o que é imposto claramente pela mídia e pelo Governo. Tudo bem, a eleição de um Papa brasileiro traria para o país uma visibilidade mundial incrível. Mas isso torna-se irrelevante se comparado aos muitos problemas existentes no Brasil que ninguém faz campanha para resolvê-los.
O Brasil tem atualmente, em números aproximados, 181 milhões de habitantes. Desses, 45% vivem a baixo da linha de pobreza.[Uma família vive com menos de um real por dia]. O Nordeste brasileiro está sumindo devido a seca que impera por lá. Em pleno século 21 o país tem somente 14% da sociedade com computadores em casa. A desigualdade social é astronômica; enquanto nos colégios da chamada "elite" da sociedade os alunos estudam com um computador de última geração em cada carteira, nos colégios da classe baixa(periferia das grandes metrópoles) não existe um micro sequer. O ensino é precário. De fazer rir ou chorar, seria o termo correto.
Portanto, apenas para exemplificar alguns problemas a serem resolvidos com caráter emergencial pelo Governo brasileiro. E é sobre eles que a Mídia brasileira deveria fazer campanha. Chamar a atenção da sociedade para eles, mostrar o que realmente acontece de errado e cobrar da autoridades uma resposta imediata. E não mostrar ao povo o desnecessário em detrimento do que realmente interessa.
São Paulo, 22 de abril 2005
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