Caro leitor, a seguir você terá a sua disposição algumas crônicas a respeito de uma paixão antiga minha: O futebol.
A descoberta do passe
Casualmente, estou lendo um livro daqueles que, iniciado a leitura, você não pára antes que as páginas tenha acabado. Trata-se de um livro de crônicas do mestre Armando nogueira. Logo no começo do livro, há um relato em que ele cita o seu amigo Otto Lara Resende. Nesta crônica, mestre Armando soltou uma frase que soou-me como uma pérola: "O passe é diálogo, é descoberta". Segundos após ler essa poesia, recordei-me de um lance singular ocorrido no último clássico entre Palmeiras e Santos, realizado no Palestra Itália. O lance aconteceu na primeira etapa do jogo, não sei precisar o momento, se antes ou depois, do primeiro gol da equipe alvi-verde. O time do Santos estava no ataque, com seus jogadores trocando passes na entrada da área do goleiro Marcos. De repente, a bola foi parar nos pés do meia Ricardinho, o cérebro da equipe da baixada. Ricardo levanta a cabeça, olha a seu redor, e não vê ninguém em condições de receber a pelota. Mas, numa rapidez incrível e numa visão de jogo digna de um Ademir da Guia, gira levemente o corpo, e com uma não menos incrível categoria que Deus lhe deu, dá um mísero toque por cima do mar de jogadores de camisas verdes. E, para "canonizar" o velho Armando Nogueira, Ricardinho descobre o centroavante Deivid, em clara condição de arrematar a redonda para as redes adversárias. O que, na sequência do lance, não se concretizaria. Porém, ficou gravado na minha memória aquele momento de rara beleza e maestria protagonizado por um jogador que sabe o que fazer quando tema a bola sob seu domínio. Contudo, são por jogadores desse nível, e jogadas belas como essa, é que o futebol mundial não sobrevive sem a inteligência e magia dos futebolistas brasileiros. Vale o quanto pesa...
São Paulo, 10 de março 2005
Nova balisa para o guarda-metas
Ouvindo atentamente a um programa esportivo pelo rádio, uma notícia me chamou a atenção e, ao mesmo tempo, causou-me surpresa. O repórter, do Rio de Janeiro, informava que o goleiro Wágner, que sagrou-se campeão brasileiro pelo Botafogo carioca, em 1995, agora, encerrada a sua carreira, ganhará o sustento de sua família do banco. Porém, não será do banco de reservas de algum clube como técnico, e sim, como motorista de Táxi. Sinceramente, tenho poucas recordações desse guarda-metas. Um único jogo que me vem à lembrança, com o Wágner atuando, é exatamente aquela final contra o time do Santos. No primeiro jogo, no Maracanã, a equipe do Fogão contava com a força do artilheiro Túlio Maravilha e do pantera Donizete. Nesta partida, o camisa 10 da equipe da baixada santista, era o sumido meia Giovanni que, aliás, jogou uma enormidade naquele dia, e tirou de letra o duelo com o goleiro do time da Estrela Solitária, vazando as redes duas vezes. Enfim, neste momento, fico a imaginar, quão delicioso não vai ser o bate-papo entre um passageiro qualquer e o ilustre motorista, nos minutos em que durar uma corrida. Eu, por exemplo, se por acaso, fosse ao Estado Fluminense, e tivesse o prazer de entrar no Táxi do Wágner, daria a ele o destino mais longínquo possível, só para tirar proveito de sua experiência nos gramados.
São Paulo, 28 de março 2005
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