E quando a dor chegar...
É muito fácil lembrar de Deus nos momentos de aflição.
De clamar por sua proteção quando passamos por uma dificuldade.
De querer sua companhia quando só temos a solidão do nosso lado.
De prometermos mudanças quando rogamos o seu auxílio.
De chorarmos enquanto imploramos uma luz.
De declararmos nosso amor, enquanto esperamos que Ele estenda a sua mão.
E muitas vezes, só lembramos de Deus quando a dor chega.
Nos momentos de felicidade, nos sentimos tão fortes que nos esquecemos de sua existência.
A alegria é geral.
O sorriso é contagiante.
A saúde está presente.
O sucesso está ao nosso lado.
E mesmo diante de tantos privilégios, temos o hábito de reclamar, sentimos que algo nos falta.
E assim, procuramos acumular, cada vez mais, bens materiais.
Procuramos preencher o nosso vazio interno com objetos supérfluos.
Nos preocupamos em ter o carro do ano, roupas de grife, uma casa confortável e tudo mais que a vida puder oferecer de melhor.
Buscamos o amor, mas não o amor verdadeiro e sim o carnal.
Queremos a excitação dos beijos.
Queremos alguém que supra todas as nossas necessidades.
Que se responsabilize por nossa felicidade e realize todos os nossos desejos.
Queremos também, realizar aquela tão sonhada viagem.
Dar a festa maravilhosa, que há tempos programamos.
Almejamos estar sempre rodeados de amigos e sermos admirados.
E enquanto a vida segue este rumo, talvez nem nos lembremos da existência de Deus.
Pra quê?
Tudo está indo tão bem mesmo...
Aproveitar esse momento para auxiliar alguém?
Ah, as pessoas que estão ao nosso lado não merecem atenção.
Cada um com o seu problema.
Evitamos ajudar, inventando mil desculpas, como falta de tempo ou de recurso.
Mas sempre arrumamos tempo para coisas sem importância, assim como, sempre conseguimos comprar aquilo que queríamos.
Uma leitura edificante? Fica para mais tarde...
Ouvir um irmão aflito? Pra depois....
E conversar com Deus? Pode ficar pra manhã...
Hoje estamos bem!
E temos que investir em outros valores.
Aí, o tempo passa...
E numa das curvas da vida, a dor chega de repente...
Nos sentimos fragilizados e sem rumo.
Não sabemos o que está ocorrendo e porquê estamos passando por tal situação.
Nossa vida parece tão confusa...
E nesse momento, aí sim, nos lembramos do Pai.
Nos voltamos para sua figura clamando por ajuda.
E Ele estará lá, pronto para nos auxiliar, como sempre esteve.
Só que, infelizmente, na maioria das vezes, só percebemos isso quando a angústia dói no peito.
Quando a matéria não consegue acolher o espírito.
E só nesses momentos, nos damos conta que temos muito mais a agradecer do que reclamar.
Livres das algemas da matéria, percebemos o quanto somos privilegiados.
E até percebemos coisas simples, como a beleza que somos capazes de enxergar ou os caminhos que trilhamos com nossos próprios pés, enquanto muitos, nunca viram o sol ou conseguiram se colocar de pé...
Aí, percebemos que nossos valores estão errados.
E que a dor se fez necessária.
Porque nos faz refletir diante da vida que estamos levando.
Nos faz questionar se estamos no caminho certo.
Se estamos semeando os bons frutos que queremos colher.
Se temos Deus presente em nossa vida.
Se estamos presos a palavras bonitas, mas sem ação.
Se estamos trabalhando em prol do amor.
Se nos preocupamos em levar carinho a quem necessita de um simples gesto.
Se procuramos investir em nossa evolução espiritual.
Se abandonamos velhos dogmas.
E se não é hora de pararmos e recomeçarmos...
Sim, as reflexões são muitas.
E para muitos, elas só chegam através da dor.
Somente sofrendo, compreendem o verdadeiro valor da felicidade.
E essa é a função da dor, nos fazer enxergar os valores que realmente são importantes.
E até aprendermos a lição, ela nos visitará inúmeras vezes.
Mas nunca devemos desanimar, somos fortes o bastante para vencermos qualquer dificuldade.
Basta acreditarmos em Deus e no potencial que Ele nos deu.
E assim, seguirmos nosso caminho, evitando a revolta ou o desânimo e tendo a confiança, que um dia, essa dor que estamos sentindo irá embora e que novas alegrias e sucessos farão parte da nossa vida.
E que Deus possa estar presente em cada um desses momentos.
Aí sim, teremos compreendido os verdadeiros valores espirituais dessa vida...
Sônia Carvalho
20/01/06