Resistência cultural
As rodas ou redutos de samba que mantêm a tradição de cantar músicas que não fazem parte do repertório das rádios podem se considerar uma resistência cultural, porque se não fosse por este meio, pouco saberíamos sobre a manifestação popular inteiramente brasileira que é o samba.
O modelo padrão tocado nas rádios não representa o samba na sua forma verdadeira, tem origem, mas não o representa. O definimos como um ritmo que entrou no gosto da massa e aderiu a moda do momento, não possui outro propósito que não seja vender e divertir. Diferente do samba que expressava a opinião ou o cotidiano do povo, a exemplo de letras que procuravam abordar problemas sociais no intuito de alertar a população.
Músicas que encaram o perfil político vão contra o interesse do alto escalão da sociedade, por isso não chegam ser selecionadas para tocar. Em contrapartida, os redutos e rodas de samba que me refiro invertem a posição de escolha e tocam as músicas que nunca ouviram na rádio. Canções que somente tocam na roda de samba mesmo, partido-alto, samba canção, os grandes sambas-enredo e outros mais. Costumamos dizer que estes sambas são o “lado B” da música brasileira, ou seja, o que há de melhor.
A resistência existe porque o samba já faz parte da natureza do brasileiro e sua autenticidade deve continuar. Nelson Sargento, baluarte da estação primeira de mangueira, simplificou esta tese quando disse que “o samba agoniza, mas não morre”, já nossa majestosa Alcione complementou a idéia com a súplica “não deixe o samba morrer”.
Se depender da vontade dos adeptos da cultura brasileira com certeza a origem do samba não vai acabar, acredita-se que ela pode continuar da forma que esta, mas deixar de existir, nunca. Além de tudo, porque, a resistência muitas vezes serve como estímulo a futura geração do samba.
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