A fábrica do samba
Na época da senzala, o samba era para os escravos uma forma de lamento como também de festividade, fazia parte de sua religião, portanto era odiado pela burguesia.
Tempos depois abolição da escravatura, o samba encontrou abrigo permanente nos cabarés do Rio de Janeiro, porém não era ainda como o vemos hoje, refiro-me aos sambas de Noel Rosa, Chico Viola, Wilson Baptista, Ataulfo Alves e outros mais. Composto por orquestras foi sucesso no bairro da Lapa nos anos 20 e 30, muitas vezes era confundido com a marcha ou com o maxixe. O sambista com seu chapéu de lado tinha perante a sociedade a imagem de vagabundo e vadio, amante da boêmia.
De acordo com a urbanização da cidade do Rio, uma pequena África se espalha por diversos morros e favelas, formam-se as escolas de samba e agremiações, onde vão surgir personagens de grande importância para a música brasileira como Cartola, Carlos Cachaça e Geraldo Pereira, na Mangueira, Paulo da Portela, Alcides Malandro Histórico, Manacea e Chico Santana, na Portela entre inúmeros outros.
Herivelto Martins num de seus sambas refere-se a este período da seguinte forma - “eu sou do tempo que malandro não descia, mas a policia no morro também não subia”. A repreensão das autoridades obrigou o samba refugiar-se sempre em um lugar mais que seguro - o morro ou os terreiros de candomblé.
O samba ganha status e reconhecimento nacional por parte de intelectuais como Villa-Lobos, que inclusive organizou uma histórica gravação no navio Uruguai, em 1940, onde participaram Cartola, Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Zé da Zilda. O movimento cultural de descendência africana atravessou o Atlântico a caminho do Brasil, agora estivera a bordo de um navio de luxo agradando a elite.
A classe baixa e operaria, que desde o principio esteve presente na definição e desenvolvimento do samba, passou a se distanciar em razão da dificuldade proporcionada pelas casas de samba. Quando não muito caras, sua localidade é desfavorável.
Esta é a origem da denominada fábrica do samba, hoje localizada nos bairros nobres da cidade, instalação interna de alto nível, telão e três ambientes a caráter, uma programação repleta de apresentações e tributos à baluartes da história do samba, como Zé kéti, João Nogueira e Clara Nunes, mas com um couvert artístico abusivo. Portanto, os visitantes que vão a estas casas são em maior parte universitários, intelectuais, empresários, pessoas da classe média em geral.
No entanto, todos aqueles que gostam realmente de apreciar o samba autêntico, mas não tem condições financeiras de pagar valores exorbitantes apenas para entrar no local sem ao menos consumir nada, trataram simplesmente de organizar redutos em suas próprias comunidades, para que assim não tenham que ficar a mercê das fabricas do samba, pois todos têm o direito de ter acesso ao movimento cultural altamente brasileiro que é o samba.
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