O RAP tem mais de vinte anos de história no Brasil, porém, passou a ser objeto de estudos acadêmicos a partir de 1996. Na segunda metade de 1990, pesquisadores passaram a estudar o RAP como uma alternativa educacional, capaz de formar politicamente e criticamente o jovem.
Os trabalhos foram apresentados nas mais variadas disciplinas das Ciências Humanas, tais como Educação, Antropologia, Sociologia, Semiótica e História. A força do RAP como expressão dos grupos marginalizados foi destacada em todos os trabalhos sobre o tema.
Ao estudarem o RAP, expressão marginalizada, os pesquisadores objetivaram quebrar “tabus”, contribuindo para verificar como os jovens (homens e mulheres) utilizaram, como expressão artística, o RAP, veiculando, através de falas poéticas, elementos da identidade e dos pertencimentos de parcela dos jovens socializados na periferia da cidade de São Paulo. Os estudos sobre o RAP abordaram as questões relacionadas a classes sociais e etnia. No interior do movimento Hip-Hop, esses conceitos já eram trabalhados desde o seu surgimento.
No início dos anos 1990, a forte influência do discurso internacionalizado dos grupos de RAP estadunidenses e o contato com o movimento negro levaram os jovens rappers paulistanos a incorporarem alguns símbolos da luta dos afro-americanos pelos direitos civis.
Então, passaram a ler as biografias dos principais líderes afro-americanos, no intuito de conhecer a história da diáspora africana nas Américas e, principalmente, as especificidades do racismo brasileiro. A estratégia foi obter conhecimento e entender os problemas sociais e étnicos para fundamentar a ação e o canto.
As representações étnicas, religiosas, das classes sociais e da violência urbana das canções encontravam referências no cotidiano dos jovens produtores do RAP.
Pode-se, portanto, pensar o RAP como um espaço de disputas, caracterizado por mudanças e transformações, mas também por resistências e permanências.
O objetivo dos estudos foi observar como se deu um processo de simulação de força que transformou o RAP numa tática lingüística eficiente para driblar os contratos e alterar, através do jogo lingüístico do poema, as regras de um espaço opressor.
Neste sentido, o RAP foi tratado como uma espécie de válvula de escape, isto é, como uma forma de expor o que, pelas vias cidadãs, não podia ser dito. O RAP, portanto, foi visto como fruto da falta de espaço para a expressão do descontentamento – o efeito colateral.
Se os integrantes masculinos do movimento desenvolveram rimas denunciadoras e críticas em relação às questões étnicas e sociais, logo as integrantes femininas questionaram, por meio de suas canções, as mazelas que afetaram as vidas de milhões de mulheres pobres e suas famílias.