Ao procurarmos no dicionário Aurélio a definição de empreendedor nos deparamos com a seguinte explicação: "Que empreende; ativo, arrojado, cometedor" ou ainda "aquele que empreende; cometedor".
O verbo empreender, por sua vez, segundo o mesmo dicionário, significa "deliberar-se a praticar, propor-se, tentar (empresa laboriosa e difícil) ", além de "pôr em execução".
Por que o termo é praticamente sinônimo de empresa, tal qual o conhecemos hoje?
Sem querer me aprofundar na semântica das palavras, mas apenas abordar o significado que elas tem hoje perante o público em geral, podemos afirmar que o termo empreendedor geralmente se aplica a quem tem uma empresa e, do outro lado, estão os não - empreendedores, ou seja, os empregados.
Terrível engano! Para certas organizações, alguns "empregados" tendem a ser mais empreendedores que os próprios patrões. E enfim, o que é um empregado?
No mesmo dicionário podemos ler definições arcaicas, como "criado", ou sob o aspecto jurídico, "pessoa física que presta serviços de caráter não eventual a um empregador, sob a dependência [!] dele e mediante salário".
Ora, parece que um empregado não passa de um ser inferior, quando nos deparamos com essas definições! Um coitado, ao qual se deve prover o sustento e, que estará "desprotegido" se ficar desempregado !
Não gosto de olhar a coisa sob esse prisma. Ainda mais, quando notamos que as relações "trabalhistas", tais quais as conhecemos hoje, tenderão a desaparecer em breve. É simples: não haverá "emprego" para tantas pessoas, num mundo superpovoado, tendendo ao envelhecimento da população mundial e à conseqüente falência das instituições previdenciárias, além do aumento irreversível da automação de atividades. Será que o futuro é um negro corredor de concreto abarrotado de mendigos? Onde um comerá o outro, enquanto "falsos deuses capitalistas" olham impávidos do alto de arranha-céus sem se importar?
Essa descrição, que tanto agradou ideologias vazias no passado (e infelizmente, ainda faz crescer os olhos dos mais retrógrados), dificilmente corresponderá ao futuro. Simplesmente, porque não há como sustentar benefícios de uns poucos em detrimento da grande maioria, por muito tempo.
Se quisermos que nossa sociedade continue existindo, esse não será o caminho. Este, por sua vez, terá de passar irremediavelmente, pela cooperação social e pelo empreendedorismo.
Voltando ao tema inicial. Um empreendedor é alguém que faz acontecer algo de sucesso. Sucesso não é sinônimo de acúmulo de riqueza, mas sim de "bom êxito; resultado feliz", como nos traduz nosso amigo Aurélio.
Uma ONG dedicada à erradicação do analfabetismo no Brasil, por exemplo, é um empreendimento que, se tem sucesso, não traduz isso em reais para sua conta bancária. Ao contrário, reverte os benefícios para a sociedade, proporcionando meios de aprimoramento pessoal para seus "alunos", bem como gera melhores "funcionários" (desculpem-me o termo) para as empresas no país. Será que as pessoas que atuam nessa ONG não são empreendedores?
Olhemos então, sob outro prisma, a figura do "empregado". Não será ele também um empreendedor? Afinal, ele vende sua mão-de-obra, seu know-how como preferirmos, a um cliente, que pode ter o nome de patrão ou o que quer que seja. A partir de agora, não nos parece melhor a definição? E não é apenas isso. A verdade é que um empregador, qualquer que seja, é mesmo um cliente ao qual devemos satisfazer, a fim de continuarmos a vender o "produto" que é nosso conhecimento, nosso trabalho. As leis de mercado, afinal, não regem os salários da mesma forma que os preços dos produtos que compramos? Quanto maior a oferta menor o preço e vice-versa. Somos todos clientes e fornecedores, conforme a situação.
Então, agora, aquele "coitado" que necessitava ser amparado (e há muitos que infelizmente, de ambos os "lados", ainda pensam que tem de ser assim mesmo) já não precisa mais ser visto como a "vítima" nessa relação. Ele é também um fornecedor que pode e deve negociar satisfatoriamente seu serviço, a preço de mercado, com quem dele necessite. Para isso há sindicatos. Não para negociar férias de 40 dias ou 14º salário, impossíveis de cumprir pela maioria das empresas, mas sim para negociar o valor do serviço de sua categoria, conforme as leis de mercado o impuserem.
Para tanto, o papel do Estado deve ser única e exclusivamente, o de regulador dessa relação, a fim de que não ocorram abusos de nenhum dos lados, além de fomentar o crescimento da economia através da compra e venda de produtos e serviços e não do falso paternalismo imperante, que serve sim, para nos dias atuais, restringir cada vez mais a empregabilidade de seus cidadãos, numa economia globalizada e fortemente competitiva. Quando isso for considerado, e enfim, as leis trabalhistas forem suficientemente flexibilizadas a ponto de absorver-se mais mão-de-obra pelas organizações, e consequentemente, aumentar o giro da economia e da arrecadação pública, o "futuro negro" estará mais distante e a maioria de nós não se sentirá tão "injustiçada".