A fila do cinema estava enorme, dava quase duas voltas no pipoqueiro. Soltei a mão de minha namorada e fui comprar um sorvete para passar o tempo. Não sei se devo amaldiçoar aquele momento ou se devo dar graças ao Pai Celestial.
Sai duma fila para entrar noutra embora a do sorvete estivesse menor eu não gostei nada do que vi; a mulher que mais amei neste mundo sorria ao lado de outro. Fiquei sem ação, não sabia se partia pra cima do cara , se chorava, se corria, se gritava...
Uma vertigem se apossou de mim de tal maneira que meus pensamentos tornaram-se uma poça de lembraças, uma nuvem negra passou por minhas vistas, não enxergava nada e ninguém que não fosse os dois, senti uma fisgada no peito e senti que cairia se não me sentasse na cadeira que estava ao meu lado, baixei a cabeça e ali fiquei.
Como ela estava linda, seus cabelos ainda continuavam sedosos e seu perfume não mudara, suas mãos macias e delicadas agora possuiam, em um dos dedos, uma bela aliança, seu rosto era de mulher crescida, porém, não perdera a expressão de menininha no sorriso.
Momentos de felicidades tumultuaram minha mente fazendo bailar em meus lábios um sorriso-choroso.
Seria ela feliz? Torcia para que sim. Perguntas como estas envolveram-me num desespero fulminante, tentei levantar mas minhas pernas pareciam estar pregadas no solo, olhei para ela e notei que agora estava calada, não sorria como fazia a alguns minutos atrás, será que me vira? Não sei.
Quando nos conhecemos, ela era apenas uma garotinha de dezessete aninhos, eu, um cavalo de vinte e três. Apesar da diferença etária ser gritante éramos felizes e parecia que nada nos atingiria, nada no mundo nos separaria, pois, achava eu que aquilo que ela demonstrava sentir por mim era amor, que ingenuidade minha, onde já se viu uma garota de dezessete anos saber o que é amar.
Quantas vezes dissera que me amava, que não viveria sem mim, que eu era o amor eterno de sua vida? Inúmeras foram as vezes. Agora, olha lá onde ela está; envolvida nos braços de outro. Aprendi, com este relacionamento, que não se deve amar somente com palavras, amar é mais que dizer “amo você”. Amar é querer que o outro seja feliz independente se você estará ou não, amar é querer estar juntinho em todos os momentos, sejam eles bons ou ruins, amar é saber ouvir e compreender, amar é desejar a liberdade do outro para que juntos possam conquistar o Universo...
Queria neste momento explicar o que eu sentia por aquela pequena, mas quem foi que disse que o amor é para ser explicado? O amor é para ser sentido, vivido. Quisera uma vez, quando criança, voltar no tempo para resgatar tudo aquilo que deixei de fazer, tudo aquilo que impedi que acontecesse mas, naquele instante, eu não queria voltar, não, afinal, realizei com ela sonhos que jamais imaginei que um dia pudesse realizar; estar apto a amar, voltar a sorrir, ser feliz, mesmo que tenha sido por instantes, foi um dos sonhos que realizei.
Por um momento o namorado dela saiu, e nossos olhos se encontram, os dela não tinham mais aquele brilho dantes, os meus faiscavam, não sei dizer se de felicidade ou se de tristeza, afinal, o que haviamos sentido e feito um pelo outro no decorrer de nossa história, agora, fazia parte de um passado longínguo.
Ela sorriu e acenou com uma das mãos, sentiu-se envergonhada ao notar que eu havia percebido que usava aliança, correspondi com um singelo balanço de cabeça e voltei os olhos cheios d´água para baixo. O asqueroso namorado voltou e ela o tratou com certa indiferença; não quis beijá-lo, seria por que eu estava ali? Pudera, afinal, ela sempre me respeitou. Notando minha presença ele ameaçou ir embora, ela não insistiu que ficasse e o cidadão acabou voltando. Sorri, lembrei o quão eram divertidas nossas discussões; brigávamos e depois ríamos de nossas infantilidades. Todas as pessoas, por mais velhas ou sérias que sejam, guardam um pouco de criança dentro de si, quando esta criança deixa de existir nós também deixamos. As rugas que hoje denunciam a minha idade não é sinônimo de velhice e sim de que a maturidade chegou.
A fila diminuia quando resolvi levantar e ir para outro canto, não era a minha inteção deixar o pequeno constrangido e, nem tampouco, fazê-los discutir, sou um homem pacífico, sensato, de paz com a vida e com todos, jamais me exporia ao ridículo de ficar ali e esperar aquele “moleque” vir se quixar de que sua namorada não tirava os olhos de mim...
Por um momento senti minhas pernas tremerem e se eu não fechasse a boca, talvez, meu coração sairia por ela, aquele instante mágico me fez lembrar o quanto fui feliz, o quanto amei aquela doce e simpática mulher... não, na verdade, eu não amei aquela doce e simpática mulher, afinal eu não a conhecia, amei, sim, a garota que se escondia por de trás dela, amei a garota ingênua que aquele sorriso nostálgico ocultava, amei a garota que trazia sinceridade no olhar e pureza na voz. Infelizmente aquela mulher que ali estava não era o anjo que um dia passou em minha vida, não era o anjo que, em questão de segundos, modificou meu viver...
Ao sair notei que olhos tristes ainda me fitavam, que acampanhavam meus passos solítários, talvez dentro do coração daquela senhorita ainda restasse a chama voraz da paixão.
Sorri feliz ao descobrir que não devemos, jamais, procurar nossa felicidade nos outros, pois, ela está dentro de cada um, somos nós os únicos responsáveis por sermos ou não felizes. Alegrei-me ao perceber que meu coração ainda pulsava e que não era tarde para amar novamente. Corri para a fila do cinema, onde estavam me esperando minha namorada e meu filho, dei um forte abraço nos dois e adentramos para asisitir “Deu a louca na Chapéuzinho”.
By Marcos Lopes
COMENTÁRIOS
Colaborações deste autor:
Para ver todas as contribuições deste autor, clique aqui.