(Fato real acontecido por volta de 1955.)
Morávamos, à época, bem perto do ponto final do Capãozinho, Largo São José. Como vocês já sabem, meu pai tinha um time de Futebol, o “XI Paulista” que todo domingo rodava os campos de várzea da região com os jogadores na carroceria do caminhão.
Naquele domingo o time foi jogar na Riviera, num campo bem na margem da Represa. O time ganhou e ao fim do jogo, no meio daquela algazarra, meu pai mandou que eu (7) e o Wagner (9) fossemos até a represa encher o galão para por água no radiador do Ford 46. Quando estávamos pegando o galão para cumprir a ordem, ele, meu pai, disse que não precisava. Só que nós não ouvimos e fomos em direção à água, distante uns 200 metros dali.
Enquanto enchíamos o galão, o caminhão começou a manobrar e, de repente, saiu saculejando até ganhar a estrada levantando poeira.
Evidentemente, saímos desesperados, correndo, batendo o galão cheio d’água nas pernas, gritando, e vendo o caminhão sumir numa curva.
Eram mais ou menos 6 horas da tarde.
Imaginem, aquele fim de mundo, àquela época, não havia uma só construção na beira da estrada. Era mato, e só. A noite caiu como um manto escuro. Não se via nada.
Choramos muito. Quando a gente prestava atenção, conseguia ouvir o gemido do Fordinho subindo alguma ladeira.
Para nossa sorte, correndo sempre, pouco tempo depois alcançamos 3 rapazes que caminhavam no mesmo sentido. Vendo que estávamos chorando, perguntaram o que havia acontecido. Após contarmos nossa desventura eles disseram que tinham pedido carona para o caminhão mas que ele não tinha parado. Disseram que eles eram da Vila Olímpia e que tinham vindo passar o dia na Riviera, numa espécie de pic-nic. Como só tinha um ônibus pela manhã e outro à tarde e, este eles tinham perdido, tiveram que tentar voltar a pé.
Nós nos apressamos a falar prá eles que perto de casa tinha ônibus que ia prá cidade, e eles resolveram nos acompanhar.
Andamos muito, passamos pelo Santa Margarida, subimos até o Jardim Ângela e descemos de lá até o Ponto Final. Depois de aproximadamente 1 hora e meia estávamos em casa. Os rapazes com a gente.
Minha mãe nos recebeu assombrada, mas ouviu atentamente o relato nosso e dos moços.
Disse que meu pai, após deixá-la em casa com os outros irmãos, foi até o Valo Velho levar os outros jogadores. Ela pensou que nós estivéssemos na carroceria e não se preocupou...
Emocionada, deu um lanche para os rapazes, explicou a eles onde pegar o ônibus, e nos pôs na cama.
Quando meu pai voltou, ela perguntou:
- Cadê os meninos ?!?
- Eles não estão aqui ?
- Não, eles não foram com você levar os jogadores ?
- Chi !!! Eu mandei eles pegarem água na represa... Será que eles ficaram lá...
E voltou prá ligar o caminhão, quando minha mãe, falou:
- Eles ficaram lá, sim, mas já chegaram, estão na cama...
A cena que se seguiu, ficou gravada em minha memória. Meu pai, um homem simples e de certa forma rude, chorando, abraçado a 2 filhos que ele havia recuperado...
Aos anjos, muito obrigado!!!
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