A Marmitinha
O Luisinho dava 1 duro danado na olaria. Acordava lá pelas 4 da manhã. As vezes com 1 frio cortante. Tomava 1 café. Comia lá alguma coisa. Geralmente ovo mexido com farinha, Pão era raro por aquelas bandas, se tinha era sovado ou amanhecido, e lá ia ele pro terreiro.
Os terreiros ficavam em frente à Pipa, local onde se trabalha o barro.
Eram, se bem me lembro, 4 terreiros. Cada 1 deles tinha 1 banca onde trabalhavam 2 pessoas. 1 era o batedor, ou seja, aquele que faz o tijolo, batendo o barro na forma e cortando o excesso com o “Arco”, desenforma na paleta e, o 2º homem com outra paleta faz 1 sanduiche do tijolo e o leva para emparedar.
Nesse paredão o tijolo ficará secando ao sol até que esteja pronto prá ir pro forno.
O trabalho do Luis não se limitava a isso não.
Além de emparedar ele tinha que cobrir o paredão com telhas para que a chuva não prejudicasse a qualidade dos tijolos.
Tinha que peneirar a areia que seria usada no dia seguinte, pois, para bater é necessário “untar” a forma com areia.
Às 11:30 hs. O Luis parava com o serviço. Era apenas o tempo de jogar água no rosto e nas pernas, pegar os cadernos e 1 marmitinha que sua mãe, Dona Rosa, preparava de arroz com feijão e 1 ovo frito ou 1 pedaço de lingüiça ajeitados numa latinha de “Manteiga Aviação”, e se mandava correndo para a escola (São Vicente) distante uns 7 kms, cortando caminho por dentro do mato.
A sala de aula era numa casa que ficava na esquina da Rua Luis da Fonseca Galvão com a Estrada. O portão ficava no lado oposto ao portão da Igreja.
Era a casa da Dona Maria Cizina, Professora do 1º ano, mãe do Prof. Napoleão, gente ruim que nem ‘chá de losna’.
As carteiras duplas tinham 1 local para a guarda do material sob o tampo, e ali o Luis colocava os cadernos e a marmitinha, a qual ele guardava para a hora do recreio.
O Negócio cheirava bem. Imaginem o arroz e o feijão feitos no fogão de lenha com banha de porco derretida. Cheirava muito e, muito bem.
O Marcilio, companheiro do Luis na carteira, não agüentava mais aquela tortura.
Até que 1 dia ele deu 1 jeito de puxar a latinha pro seu lado da carteira. Disfarçou, pediu licença prá Professora 5 minutos antes do recreio e se mandou com a “cobiçada”.
Fora da sala, desembrulhou o guardanapo (pano de prato – feito com 1 saco de estopa alvejado) que continha 1 colher, e mandou ver. Em 3 bocados engoliu o almoço do nosso pobre rapaz.
Ao final jogou tudo no mato e esperou calmamente o pessoal sair para o recreio e se misturou aos demais.
O Luis, por sua vez, ficou procurando na sala de aula a marmitinha, e nada...
Quando se deu conta do que tinha acontecido saiu da sala bufando. Pegou o Marcílio e deu lhe uns tabefes no pateo mesmo.
Resumo: Acabaram na Diretoria. Os 2 de castigo. Reguadas na mão. Cara na parede. Uma injustiça com o Luisinho.
Para alívio dele, começou a almoçar antes de ir prá escola. Nunca mais sentaram juntos.
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