A VOLTA DA ESCOLA
Gozado, quando a gente fica velho, sente saudade até do que era ruim. Mas, voltar da escola no nosso tempo era uma aventura e traz recordações das mais diversas.
A gente era doido para, quando subíamos o Morro do “S”, pegar uma carona com o Seo Alexandre Eder, dono do Frigor Eder.
Na época, naquele horário, ele voltava do Frigorífico (Isabel Schmidt x Av.Adolfo Pinheiro) em Santo Amaro para sua casa na Fazenda Santa Gertrudes no Valo Velho, em seu Chevrolet 51. O carro era lindo, bancos de couro, um luxo.
Sobre o banco dianteiro ele levava pacotes de dinheiro, arrumadinho e amarrados com barbante. Era muito dinheiro.
O estradão de terra. Depois veio o asfalto. Feito com tecnologia da época. Imagine só, jogavam-se umas pedras grandes, pixe, uns pedriscos e pixe. A grande diferença, porém, é que os caras faziam a estrada toda. Pedaço por pedaço, mas a estrada toda. Não se fazia primeiro uma faixa depois a outra.
Me lembro até hoje que quando estavam asfaltando em frente à Delegacia.
Aquele morro que termina na entrada do Colégio Adventista, na época era bem mais íngreme. Eles melaram a pista toda e não sinalizaram nada. O caminhão do japonês chacareiro apareceu no alto do morro, cheio de gente na carroceria. O pessoal do DER, aqui em baixo, gritava pro japonês parar. O japonês mete o pé no freio. O caminhão desce deslizando, rebolando, corcoveando, e mete a cara no barranco. A japonezada em cima de pernas pro ar.
Prá gente em cima do barranco aquilo era uma festa.
O caminhão atravessado na pista, a carroceria no meio da rua. A perua do Emilio Guerra apareceu no alto. Todo mundo gritando. A cena se repete. O cobrador firuleiro, na porta com o troco dobrado entre os dedos, se esforçava para não ser jogado. A perua desce deslizando, rebolando, corcoveando, tombando, bate na quina da carroceria do caminhão, volta a se aprumar e consegue parar lá em baixo em frente ao portão do Colégio. O cobrador e os passageiros começam a descer. As pernas tremendo. Cenas inesquecíveis.
Do lado da rodovia ficavam tambores com pixe pela metade. Chovia, o tambor se enchia d’água. O pixe formava uma crosta e dava prá pegar sem sujar as mãos.
Como na volta a gente formava grupos (turmas). O pixe ali, a oportunidade ali, os adversários ali, a ocasião ali, a guerra ali.
Alguém metia a mão no tambor, fazia a bola de pixe e começava. A gente punha o pessoal do Marciano prá correr. O pessoal da Vila Diniz...etc..
Na hora de chegar em casa, o mais novo, que geralmente faz o serviço sujo, entrava sorrateiro pela janela, pegava o garrafão de querozene e levava para o pessoal se limpar.
Depois de lavar as mãos e o rosto. Davam a volta e entravam em casa como se nada tivesse acontecido...
Bons Tempos.
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