O BIJU!!!
O Capão mudou muito, assim como o mundo todo mudou muito nestes últimos anos.
Me lembro que os bens eletrodomésticos eram raros. Você, ter 1 rádio, veja bem, 1 simples aparelho de rádio, era 1 sinal de status. Diariamente, a gente caminhava 1 bom pedaço de chão para ouvir as novelas no rádio, num “rádio a Luis” (elétrico com válvulas). “O Direito de Nascer”. “Juvêncio, O justiceiro do Sertão”.
Televisão então, para todos terem idéia, por volta de 1959, 1960, a gente ia de onde hoje é o Hospital do Campo Limpo até a casa da Dona Tereza, diretora da Escola São Vicente à época, que morava atrás da igreja N.Sra. do Carmo, para assistir os seriados do “Capitão 7”, etc...
Os carros eram todos importados, grandões. Ford ou Chevrolet, todos pretos, andando nas estradas empoeiradas. Havia pouco asfalto.
A industria nacional só começou em 1955. Logo ter 1 carro era 1 sonho difícil de ser atingido pela grande maioria da população brasileira. Naquele tempo os carros no bairro eram raros. Eu batalhei muito e, em 1973, quando entrei na faculdade comprei o meu....
1 fusca 1200, rodas meia-tala, “vermelho-granada”, 1966, placa: BJ-4620, linnnddoo!!!
Devido à placa: “BJ”, e, como os carros naquele tempo ganhavam nome, o meu foi batizado de “BIJU”...
Quando chegou ao Capão pela primeira vez, à noitinha, causou alvoroço.
Naquela noite ninguém conseguia dormir devido aos latidos dos cachorros (que eram bem caipiras, também). Desde que apontamos na rua eles vieram acompanhando, latindo para as rodas do carrinho que os olhava desconfiado. Quando o carro parou os cachorros não sabiam o que fazer, mas continuaram latindo...
E, nos finais de semana, lavar o carro na represa. Enchia o carro de moleque e lá ia todo mundo dar 1 trato na caranga...
Depois meu irmão Wagner, comprou a “Cacilda”. Um gordini nervoso.
O Robinson largou a “bicicletinha” e comprou 1 fusca branco, sem graça que nem ele, “Camila”. O Batata, também, “Soraia”. Só que ele não sabia dirigir e quem andava com ele sofria.
Ele olhava pelo retrovisor interno, com o cigarro no canto da boca, e falava prá mãe dele, morrendo de medo no banco de traz:
“Calma aí Noa (como ele chamava a coitada) eu sei o que estou fazendo...”
E, continuava fazendo barbeiragens...
Antes de comprar a “Cacilda” e, quando meu carro, o Biju, ainda era o único da família, o Wagner resolveu ensinar a Edna a dirigir. Pegou a chave escondido e foi dar 1 volta no quarteirão, levando junto meu sobrinho mais velho o Kiko que na época tinha mais ou menos 4 anos.
A volta compreendia: Sair da esquina da João Zeltner com a Landulfo de Andrade, onde a gente morava (a casa não existe mais, hoje é o muro da escola), subir na próxima esquina a Luis F.Galvão até encontrar novamente a João Zeltner em frente a entrada da Chácara do Seo Gildo, entrar à direita nela e depois com 1 curva quase em 90º, voltar ao ponto de partida.
Tudo foi muito bem. O Wagner como passageiro ensinando os comandos para a Edna, sob os olhinhos atentos do Kiko. Com dificuldade a Edna ia fazendo as manobras, até chegar na tal curva em 90º....
Ela virou, só que tinha uma descidinha, ela se confundiu, o carro obedeceu ao comando para virar, só que precisava desvirar depois da curva.... ela não desvirou o carro continuou fazendo a curva....e.... tinha um barranco...e...aí o Biju parou....
Os dois ficaram apavorados. E agora como fazer prá que eu não descobrisse ?
O negócio era limpar as marcas da terra nos faróis, felizmente o Biju não ficou amassado, pedir pro menino não contar nada... colocar a chave no lugar... e pronto.
Tudo certo, combinado.
“- Kiko! Não fala pro tio que a tia bateu o carro, hein !!!”
Ao chegarem, todos disfarçando, o menino, falou:
“- Tio!!! A tia Edna não bateu o seu carro... foi o barranco que entrou na frente...”
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