CAIPIRICES III – O TELEFONE
Meu primeiro emprego foi na Praça da Sé, em 1962. No 4º andar do prédio em que funcionava a Drogaria do Farto. Era uma loja comercial com 2 salas, em uma comércio de roupas, na outra uma loja de essências finas. 2 sócios: Seo Mário e Seo Rafael.
Quem me arrumou o emprego foi o Seo Benedito Lopes, o “Dito Fogueteiro”. Era prá trabalhar no lugar do Danilo (filho dele) que precisava sair.
Me explicaram tudo sobre o serviço:
O trabalho é cuidar da loja quando eles precisarem sair. Arrumar o estoque quando alguma coisa fosse mostrada ao cliente e ficasse sobre o balcão. Fazer uma limpeza. Fazer uma ou outra entrega e atender o telefone.
O telefone prá mim era um ilustre desconhecido. Eu só sabia o que me contavam a respeito e isso era muito pouco. Eu nunca tinha visto um. Mas eles (Seo Benedito e o Danilo) me tranqüilizaram:
Quando tocar você atende:
-“ Alô!!...
A pessoa vai falar: - “Alô! Quem está falando ?”
Você responde: - “ Quer falar com quem ?...”
Ele vai dizer: -“Quero falar com o Fulano, Sicrano, Beltrano...”
Ou às vezes a pessoa liga e é engano, se não for, você pede um momento e chama o Fulano, Sicrano...
Confesso que treinei isso algumas vezes.
No primeiro dia até um determinado momento tudo deu certo. Arrumei as roupas que estavam no balcão. Carreguei umas caixas até um depósito no prédio. Na hora do almoço, comi a comida fria na escada entre o 4º e o 5º andar, porque fiquei com vergonha de esquentar onde o Seo Benedito disse que era prá isso mesmo. Porque lá o pessoal da “Drogaria” também almoçava.
Sobrava tempo na hora do almoço e eu aproveitava para dar uma volta pela Praça. Rua Benjamin Constant, Barão de Paranapiacaba, Rua Direita, etc...
A cidade era linda, um burburinho gostoso:
“A borboleta, treze...” “Vaca, Macaco dezessete...”
Voltei ao trabalho o Seo Mario encima da escada ajeitava as peças de roupa que eu ia lhe dando. O telefone tocou...
O telefone tocou 2 vezes... O Seo Mario me olhou...
O telefone tocou a 3ª vez...
-“ Atende.”
Falou me apontando o telefone.
Tremi, tinha chegado a hora. Tirei o telefone preto do gancho. Colei no ouvido e falei hesitante:
-“Alô ?”
-“Aqui é o Sergio me chama o Rafael...”
Ué!!! E agora o que que eu faço. Não foi assim que eu aprendi. Desliguei.
O Seo Mário ficou me olhando:
-“Quem era ?”
-“Engano...” Respondi
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