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Copa do Mundo - distorceram o hino Waving Flag de Knaan

Por: João Batista Soares de Carvalho

A Copa do Mundo que teminou  há pouco provou que o futebol é extremamente eficiente na dissolução de tensões e conflitos sociais. É um balde de água fria em um braseiro. O que, no início, parecia ser um evento que lembraria as atrocidades cometidas durante o regime do apartheid, que mostraria um país (África do Sul) e um continente (África)de uma forma nunca vistos antes, se dissolveu assim que a bola rolou.
Observei, durante esses dias de jogos, a distorção marqueteira de um lindo hino de libertação “Waving Flag” criada pelo cantor somali K’naan.
K’naan se juntou a outros cantores para fazer uma campanha em favor dos flagelados do Haiti e já havia transformado a letra de Waving flag para esse evento, mas foi por uma boa causa. Veja o vídeo abaixo.
As primeiras versões falam sobre libertação dos jugos da exploração econômica, da miséria, resultante dessa exploração, a que estão subjugados milhões de jovens no mundo. A batalha pela sobrevivência, pela comida, pela dignidade marca essa letra. Além disso, é uma canção de esperança na medida em que projeta no futuro a transformação dessa dura realidade.
A ideia entortou quando a coca-cola comprou a música e a transformou numa exaltação a sei lá o que com o nome de Celebration. Essa letra da coca-cola fala sobre alegria em ver todas as nações cantando pela juventude, sobre ver os campeões em campo. Comparando as versões, as ruas, na primeira versão, era um local de luta e miséria que ensinava um jovem pobre toda sorte de artimanhas para a sobrevivência. Já na versão da coca-cola, as ruas estão fervendo, as pessoas perdem a inibição e celebram.
Devo ressaltar que o cantor K’naan vendeu sua música, porém, do original, conseguiu manter o revolucionário refrão: "Quando eu ficar mais velho eu serei mais forte, eles me chamarão de liberdade, como uma bandeira ondulando..."
A música ficou pior ainda quando a banda brasileira Skank criou outra versão que jogou a ultima pá de areia em qualquer discurso de libertação. Uma letra esdruxula que faz menções a lances de uma partida de futebol (“gol de placa, de trivela, no cantinho”?) esvazia completamente o conteúdo da música. Aqui no Brasil não sobrou nem o refrão. Esse vídeo nem merece um link nesse blog.
Eu comentava na tarde do show de abertura que a Rede Globo nunca tinha mostrado tantos negros como agora. Mas, ironicamente, chegaram as finais desse campeonato nações que no passado foram responsáveis por grandes atrocidades contra os africanos e os não-brancos em geral: Holanda, a grande colonizadora da África do Sul; Alemanha, responsável pelo regime que mais pregou o ódio contra os diferentes – nazismo; Espanha, nação escravista histórica.

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